sábado, 26 de abril de 2014

Deficiência Múltipla (DMU) x Surdocegueira

Pontuando suas diferenças e semelhanças


Pessoas com deficiências múltiplas e pessoas com surdocegueira fazem parte do público-alvo da educação especial. Assim, é importante saber diferenciar a DMU da surdocegueira, reconhecer suas necessidades básicas e conhecer estratégias utilizadas para a aquisição da comunicação.

Deficiência múltipla
  • É um termo que caracteriza o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social. (MEC – 2006)
  • Associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (intelectual / visual / auditiva / física), com comprometimentos que acarretam conseqüências no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa. (BRASIL. Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989)
Deficiência múltipla sensorial diz respeito à associação da deficiência visual ou auditiva, a outras condições de comportamento e comprometimentos, que podem ser de natureza física, intelectual ou emocional, e dificuldades de aprendizagem. (MEC/SEESP/2006)

Surdocegueira
  •  É uma condição única, cujo impacto não se resume ao somatório das dificuldades da surdez e da cegueira, pois as dificuldades oriundas da perda dupla não se adicionam, mas se multiplicam. (LAGATI, 1995, p. 306)
  • Deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa e um sistema para dar o suporte. (MCINNES, 1999)
Assim, compreende-se que a surdocegueira não é uma deficiência múltipla resultante da associação da cegueira com a surdez. A surdocegueira é uma condição única na qual o grave comprometimento da visão e da audição resulta, segundo Telford & Sawrey (1976), na multiplicação dos problemas relacionados à aprendizagem dos comportamentos socialmente aceitos e à adaptação ao meio.

Necessidades básicas das pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla
  • Desenvolver o esquema corporal, buscando:
o   a sua verticalidade;
o   o equilíbrio postural;
o    a articulação e a harmonização de seus movimentos;
o   a autonomia em deslocamentos e movimentos;
o   o aperfeiçoamento das coordenações viso motora, motora global e fina;
o   e o desenvolvimento da força muscular
  • Aprender a usar as duas mãos, quando não apresentam graves problemas motores, para:
o   minorar as eventuais estereotipias motoras;
o   desenvolver um sistema estruturado de comunicação com o uso de ambas as mãos.


Estratégias utilizadas para aquisição de comunicação

Bosco e colaboradores (2010) explicam que a limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações coletadas do entorno pode resultar em prejuízos no processo de simbolização das experiências vividas, por provocar carência de sentido para as mesmas. Assim, é fundamental disponibilizar recursos que promovam a aquisição da linguagem estruturada no registro simbólico, seja verbal ou em outras modalidades como a gestual.
A seguir serão elencados alguns recursos para a aprendizagem de alunos com surdocegueira e deficiências múltiplas:
  • Objetos de referência: objetos que têm significados especiais com a função de substituir a palavra, representando  pessoas, objetos, lugares, atividades ou conceitos associados a eles;
  • Objetos de referência das atividades: um objeto que antecipa a atividade a ser realizada, por exemplo, uma caneca para a hora do lanche;
  •  Caixas de antecipação: permite conhecer os primeiros objetos de referência que anteciparão as atividades e o conhecimento das primeiras palavras. São utilizadas com crianças sem sistema formal de comunicação;
  • Calendários: favorecem o desenvolvimento da noção de tempo e que ajudam os alunos a estabelecer e compreender rotinas. Também são úteis no desenvolvimento da comunicação, no ensino de conceitos temporais abstratos e na ampliação do vocabulário.


Referências

BOSCO, Ismênia C. M. G.; MESQUITA, Sandra R. S. H.; MAIA, Shirley R. Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar - Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla (2010).
Brasil. Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. D.O.U. de 25.10.1989
LAGATI, S. Deaf-Blind or Deafblind International Perspectives on Terminology.1995 Tradução: Laura L. M. Anccilotto. São Paulo: Projeto Ahimsa/Hilton Perkins, 2002.
Educação infantil : saberes e práticas da inclusão : dificuldades acentuadas de aprendizagem : deficiência múltipla. [4. ed.] / elaboração profª Ana Maria de Godói – Associação de Assistência à Criança Deficiente – AACD... [et. al.]. – Brasília : MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006.
MCINNES, J. M. Deaf-blind infants and children: Adevelopment guide. Toronto, Ontario, Canada: University of Toronto Press, 1999.

TELFORD, C.W. & SAWREY, J.M. O indivíduo excepcional. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1976. 2ª ed.